sábado, 1 de julho de 2017

Minha vida mais não tão normal

Tudo mudou dia 6 de fevereiro de 2017.
Chegar em casa e encontrar minha mãe tendo um AVC, foi estranho, quase como se estivesse vivendo uma outra vida de outra pessoa. Ao sair pela manhã, nada indicava que ela estivesse se sentindo mal. Pedi que bebesse bastante água por causa da onda de calor dei um beijo, impliquei com ela e saí às gargalhadas porque ela ficava revoltada com minhas preocupações.
Quando entrei no apartamento correndo, já tinha avisado aos porteiros que a ambulância estava chegando, pois Ida chamou.
Tiramos mamãe do chão. Aos poucos, com. a garra que sempre teve, ela foi tentando dominar a situação. Que mulher extraordinária! Foi recuperando a força do lado direito, tentava nos ajudar a trocá-la e quando a ambulância chegou estava sentada no seu cantinho favorito do sofá. Já movimentando pernas e braços, mas com dificuldade para falar. Ainda assim tentava se comunicar.
Conseguimos vaga no HCE e a levamos rapidamente para lá. Foram feitos os exames e estava definido o tratamento, que seria aplicado no CTI. Ela estava sentada na maca e eu falei: cuidem da minha velhinha. Ela, como sempre, mesmo com a fala enrolada respondeu: Velha é a mãe!
Naquele instante eu tinha certeza de que traria minha mãe para casa. Nada indicava que ela não se recuperaria.
Mas, ao iniciar a medicação, ela fez um choque anafilático violento. Tiveram que interromper a medicação e tentar salva-la. Não houve tempo para entubar. Foi preciso a traqueostomia. E o coração parou. Tiveram que reanimá-la. Minha mãe sofria de lúpus, tinha pontes no coração e resistiu a tudo isso.
Em casa, tristes e desesperados, não sabíamos o que estava acontecendo no hospital.
Na manhã seguinte, o choque. Não nos avisaram do quadro. Eu entrei na UTI e vi minha mãe tão inchada que a língua não cabia na boca. Mas  estava lúcida e consciente. Eu a abracei e disse que estava com ela para tudo, para o que ela quisesse.
Estive com ela todas as horas possíveis. Inventei o dia de 28 HS. Estar com ela era fundamental.
Vi minha mãe lutar bravamente pela vida. A tentativa de tirá-la do CTI o mais rápido possível para evitar que tivesse infecções.
Havia dificuldade em conseguir o material necessário, faltava até o mais prosaico suporte para o aspirador e as sondas . Mas ela continuava a briga. Saiu do CTI mas retornou porque demorou a ser atendida numa crise de asma. De fato, eu e a enfermeira do plantão é que salvamos minha mãe, pois fizemos a manobra respiratória necessária dentro do tempo certo. Quando médicos e fisioterapeutas apareceram, exigi que ela fosse de volta para o CTI, onde Major Ferraz sabia o que fazer .
Ele realmente foi 10. E logo mamãe retornou ao quarto.
Foram meses de luta.
E, surpreendentemente, quando os médicos começaram a nos organizar para o home care, ela teve o colapso respiratório e não resistiu.
Dia 22 de maio de 2017.
O dia em que minha mãe iniciou sua passagem para outra dimensão, muito mais distante. Já recebi por um canal inesperado notícias de que ela foi bem recebida. Me emociona falar nisso, porque a pessoa que trouxe a mensagem não conhecia minha mãe, nem a família e amigos e me fez uma descrição tão incrível da recepção à minha mãe que só pude chorar de alívio
Perdi a minha maior amiga. Aliás, não. Ela está tão arraigada em mim que, às vezes, dá medo. rsrs Estou levando, ainda meio perdida. Estou profundamente triste, ainda e sei que não vai passar tão cedo. Estávamos planejando o apartamento, as obras de reforma. Então, estou organizando para ficar como ela queria.

Nave-mãe Idhalia Barcellos você foi e sempre será e uma pessoa iluminada e empoderada. Espero estar à altura da mulher que você tentou formar para comandar a família. Estou seguindo suas determinações e não pretendo me afastar delas. Podem gritar à vontade.

A voz de Idhalia será a única, além da lei, a ser ouvida. E quem estava próximo dela sabia o que ela queria.