domingo, 28 de julho de 2013

Abençoada

Assim me sinto.
Fazer o que, se passar uma semana andando pelo meio de peregrinos alegres me fez bem?
Não houve um dia sequer que sua presença não me trouxesse um sorriso aos lábios. E tive uma imensa alegria ao me deparar com um grupo de chineses, sabendo da dificuldade que é ser católico na China.
Se eu sou católica? Não. A Igreja me repeliu faz tempo. Eu fui batizada, sim. Mas não passou disso. Tentei, mas minha curiosidade e o caráter inquieto não se alinharam à Igreja de então.
Mas continuei indo à uma missa ou outra ao longo da vida. Ou a casamentos. Ou, simplesmente, me abrigando numa Igreja, em geral Santa Rita, com quem tenho uma história daquelas que não se explica, para chorar livremente sempre que preciso.
Eu gosto dos rituais católicos. Adoro os templos. Sei que tudo isso envolve séculos de exploração, de atos ilegais  e amorais. Mas me emociona, me seduz.
A fé me emociona.
Eu gostaria de ser capaz desse grau de entrega. Torna a vida menos dolorida.
Nesses últimos dias, mesmo com o feriado concedido pela prefeitura para a cidade por conta da passagem do Papa para a Jornada Mundial da Juventude, decidi ficar em casa. E fiquei em casa por um motivo muito especial. Minha mãe. Católica, filha de Maria (por isso me chamo Elisa Maria), que se afastou da Igreja por amor a meu pai.
Fiquei em casa e, com ela, acompanhei emocionada os eventos em que o papa esteve presente. Ninguém vai poder viver a emoção que vivi nesses dias, guardar a lembrança da alegria de minha mãe ao relatar que, saindo de casa para ir ao médico, a rua tinha sido fechada para a passagem do Papa Francisco e ela pode vê-lo. Assistir com ela pela tv a cada missa, cada discurso.
Compartilhar o abraço na missa do Envio.
Sou grata por esses momentos. Não importa a quem. Esse sentimento de plenitude, de alegria, de completude, só pode ser gratidão.
E se ter a sorte de poder viver esses momentos, de ter essas experiências se encaixa em alguma definição, á palavre é benção.
E assim me sinto.
Abençoada.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Flash

Subitamente tudo me pesou.
A velocidade dos acontecimentos desceu sobre mim de uma forma tão espetacular e intensa que não consegui mais processar tanta informação.
Na minha cabeça, misturaram-se imagens da família, dos amigos, dos desconhecidos. Do mundo. Do universo.
Rapidamente passavam clarões de bomba, gritos de revolta e dor, arrogância, encantamento dos olhos de minha mãe em sua viagem de férias, o meu desencanto com muitas coisas, a minha vibração com tantas outras que estavama caladas em minha alma. Mortes súbitas, mortes esperadas. Partos reais. Atos insanos e autoritários. Desprezo pelo povo. Desprezo pela leis. Multidões em festa e multidões sorrindo. Famílías, sim famílias, em busca dos seus Amarildos.
Gente que tapa os olhos com as mãos mas não consegue tapar os ouvidos e fica sem saber o que fazer. Gente que sabe o que quer e como conseguir. Gente que está descobrindo como tem poder.
Neve, que sempre me encanta e, esse ano, tomou um lugar especial na minha vida. Cometas raspando. Pedras que caem do sol, do céu.
Vida que vale, vida que passa, vida que é desprezada, que começa e acaba.
Mercado financeiro, falcatruas políticas e profissionais. Imagens de filmes que vi, de livros que li, hoje e ontem.
Tentativas, erros, acertos, fracassos, pequenas - e importantes - vitórias.
O jovens mortos em Santa Maria. Os jovens e adultos mortos na Maré.
Certamente esqueci muitas das coisas que passaram em flashes na minha cabeça em 10, 15 minutos, não sei. Por uns segundos foi como se uma vida passasse em minha mente. Mas estava mergulhada apenas nos últimos meses.
E me assustei.
Porque há muito ainda por fazer e ver.
E depois lembrar.

sábado, 13 de julho de 2013

Viva

No meio da loucura que tem sido esses últimos 30 dias, com toda a agitação política do País, eu conseguindo mais algumas coisas boas para a minha vida, participando também das manifestações. Descobrindo que o Maraca nunca mais será o meu Maraca, que ainda corre o risco de não ter nem a Charanga do Flamengo lá dentro, tiro a tarde para mim. Exclusivamente para mim.
Vou ao cinema, vazio como gosto, ver Johnny Depp.
Saio e vou tomar um café. Preços absurdos, como tudo aqui no Rio atualmente.
Estou quase saindo do café quando ouço uma voz e procuro pelo dono dela. Eu o vejo, de costas, e sorrio. Fico na mesa mais um tempo só para ouvir aquela voz. Quando ele olha pra trás e captura meu olhar, eu não desvio. Não sorrio, não por não querer. Mas porque meu coração está disparado, deliciosamente disparado. E eu desejo muito ouvir mais aquela voz e sentir de perto aquela energia que vem dele.
Saio do café. Dou umas voltas pelas lojas e, antes de partir de vez, passo de novo pelo café onde ele continua em reunião de negócios.
Percebo que desejo intensamente uma segunda chance de encontrar esse homem.
Sorrrio, então.
Estou viva de novo.