domingo, 4 de outubro de 2009

Refletindo

Um constante desconforto por ficar um tempo maior sentada ao computador me fez constatar, perplexa, que não regulava a cadeira desde 2007... Assim como o computador que desmontei e que está até hoje largado aqui. Muita coisa mudou em minha vida desde então. Creio que na última vez em que organizei a estação de trabalho aqui de casa, ainda estava com o André. Depois de tudo o que aconteceu, do período de "trevas e dor", das tentativas desastrosas de resolver tudo, das experiências equivocadas, da constatação de que teria que recomeçar do zero, reconstruir minha vida do ponto de vista emocional e financeiro e, com os problemas no trabalho, reconstruir minha vida profissional também, acho que a necessidade de ajustar a cadeira e remontar o micro desapareceu.
Agora, quando as dores da alma são quase inexistentes, quando há em mim uma vontade explícita de me abrir, de receber novas pessoas em minha vida, a desorganização, os desajustes de qualquer ordem começam a me incomodar. Volto a me cobrar insistentemente. Fico ansiosa porque não alcanço metas que estabeleço em relação a reformatar minha vida, eliminar pendências e me sentir livre de novo.
Quero que tudo esteja em ordem quando alguém novo aparecer para que eu possa me doar inteira, do jeito que gosto de fazer. Eu não gosto de relações superficiais. Minhas amizades não são superficiais. Meu amor muito menos.
Se encontro alguém merecedor da minha atenção, do meu cuidado, essa pessoa o terá de forma integral. Para que eu possa me entregar com essa paixão, preciso não ter muitas preocupações de ordem prática. E meu foco no momento é esse: eliminar o que ainda me impede de retomar minha vida normal, rescaldos do desastre.
Os últimos meses têm sido extremamente ricos para mim. Acostumada desde muito cedo ao uso indiscriminado do cheque e do cartão de crédito, hoje só pago cash. Aprendi na marra que não preciso de muletas para lidar com minhas emoções. Isso foi extremamente benéfico porque, além do consumismo em termos de compras, havia o consumismo em comida. Afogar dores no leite condensado sempre foi natural para mim desde a infância. Um comportamento que me foi ensinado, a compensação. Infelizmente isso tornou-se mais grave quando, diante do choque dos eventos envolvendo a separação, fui perdendo pouco a pouco o que tinha acumulado até então. A correção dos males que herdei ainda levará algum tempo.
Algumas pessoas acham bobagem que eu me preocupe em reequilibrar essa parte prática da minha vida antes de buscar um relacionamento sério. Eu não acho. Penso que, se realmente desejo uma relação bacana, estável, com alguém preciso estar tranqüila ou, no mínimo, ser sincera sobre as minhas limitações no momento. Porque a questão financeira é algo grave que pode afetar o bom andamento de qualquer relacionamento.
É claro que, com isso, criei mais um foco de preocupação para mim. Se não estivesse interessada em alguém, seria mais fácil. Mas há pessoas em potencial, pessoas que despertam em mim o desejo de ser alguém melhor, de me aprimorar. Pessoas cuja opinião faz diferença, cuja aprovação tem valor imenso. Pessoas que provocam e aguçam minha curiosidade, minha vontade de aprender, que me estimulam e desafiam. Pessoas com quem eu me sinto bem e a quem gosto de fazer sentirem-se bem
Nessa mistura de sensações, emoções, necessidades e realidades, retomo sonhos. Volto a sonhar com algo que estava tão perto em 2007: minha casa. Sei que agora levarei um pouco mais de tempo. Mas o fato de conseguir voltar a sonhar, me faz muito bem. E imaginar aquele fogão dos meus sonhos, na minha cozinha, a sala repleta de amigos que esperam o bolo de banana ou o brigadeiro de colher não me parece bobagem, nem me causa dor. Sei que é questão de tempo e que, mais uma vez, só depende de mim.
Estou num processo de revirar malas, caixas, pastas e gavetas. Jogar coisas fora. Decidir o que eu quero que continue a fazer parte de minha vida e o que vai para outro caminho.
Não lamento mais ter estado tão perto e ter perdido tudo, ainda que seja doloroso constatar o tamanho do meu prejuízo físico - pois estive profundamente doente e agradeço ao anjo Isabella, minha sobrinha, que me fez continuar firme ao cantar Hakuna Matata todos os dias para mim, em línguas diferentes que ela aprendia na internet, me fazendo rir loucamente -, emocional, profissional e financeiro.
Mas eu tenho um problema: sou guerreira. Quando olho tudo o que enfrentei praticamente sozinha, do espaço que ainda encontrei para me doar a quem estava tão ou mais necessitado do que eu, tudo num curtíssimo espaço de tempo e me vejo aqui, chamuscada, mais desconfiada, mas ainda viva e com vontade de sonhar, de desejar, de amar, tenho orgulho da mulher que sou. E, entre lágrimas que ainda teimam em rolar sem meu consentimento, me preparo, mais forte, para viver mais um dia dessa jornada.

2 comentários:

carmencita disse...

Elisa,vc já leu DEmian de HH.
E mulheres que correm com os lobos de Clarissa Pinkola Estés.
Estou me encontrando.Temos que amar mas não podemos ser mulheres que amam demais.
Desculpe a ousadia(rs).
Beijos

Elisa disse...

Carmencita,
Ainda não. Mas eu li algo sobre assunto. Na verdade, a necessidade de estar bem é mais uma coisa egoísta minha. Quando eu digo que quero poder me jogar e que para isso preciso estar bem, equilibrada, na verdade o que eu quero é me bastar...rsrs É... No fundo tenho um medo imenso de ser vulnerável, e hoje me sinto vulnerável. Acho que é por aí... rsrs... Talvez seja mais simples do que eu penso. Basta que o "príncipe encantado" se decida... Aí o que passou vai ficar para trás de vez e eu vou conseguir lidar com esse medo besta. Mas vou dar uma olhada nos livros, sim. E não tem que se desculpar, não! A amiga aqui agradece de coração ao carinho. É muito bom saber que as pessoas nos querem bem. :-)
Grande beijo!
Lisa