domingo, 15 de junho de 2008

Morar em Laranjeiras

Costumo dizer que morar em Laranjeiras é especial. Me traz um pouco da intimidade que existia entre os vizinhos do bairro suburbano em que cresci. As pessoas se reconhecem na rua, no boteco, na padaria. Dão palpite nas compras no mercado, falam das melhores ofertas e se encontram para comer pastel e ouvir chorinho na feira.
Existe ainda o charme adicional de ser o bairro que abrigou dois de meus escritores favoritos: Machado de Assis e Manuel Bandeira.
É o bairro que tem o maior número de blocos de carnaval no Rio de Janeiro, que tem no Instituto Nacional de Surdos um dos ipês mais bonitos da cidade e que está floridíssimo agora.
Aqui, me sinto muito bem.
Toda essa sensação de estar protegida, cuidada, de pertencer ao lugar, foi reforçada ontem quando entrei no bar e o dono, que me conhece desde que vim morar aqui, em 1988, que acompanhou alegrias e tristezas da minha família, me chamou e perguntou qual era a dieta que eu estava fazendo. Achei até engraçado, pois estou nesse processo de perder peso já faz um bom tempo. Conversamos, contei os detalhes e o Zé, que até hoje não tinha feito qualquer comentário sobre o "sumiço" do André, virou para mim e disse: fico feliz em saber que você está emagrecendo por você, pela sua saúde. Ninguém nesse mundo merece que você mude seu jeito de ser, quem tiver que amar você vai te amar como você é. Tive vontade de dar um beijo no Zé.
É esse tipo de intimidade, como a das senhoras do meu prédio que acompanharam com carinho toda a minha dor, me dando força na medida, sem invadir meu espaço, como o pessoal do mercado, que elegeu um representante para me perguntar se estava tudo bem e se eu precisava de alguma coisa, é essa solidariedade que conheci na infância em Guadalupe e que achei que jamais encontraria novamente que, entre outras coisas, tornam um presente morar em Laranjeiras.

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